A 8.ª edição do festival de teatro PALCOS de Santo Tirso arrancou no passado fim de semana (28 e 29) com casas cheias na Reguenga e em Roriz para assistirem a duas criações originais, Os Raposos e Trocas e Baldrocas. Para a Companhia de Teatro de Santo Tirso, entidade organizadora do PALCOS, a grande adesão do público é para a companhia o reconhecimento de um percurso iniciado há já 8 anos. É alento para seguir caminho dando passos firmes alicerçados na resiliência e resistência, dedicação e trabalho árduo em prol do teatro como uma das forças dinamizadoras do panorama cultural do concelho de Santo Tirso. À semelhança do vasto leque de personagens, peripécias e conflitos que a cena teatral alberga, também o teatro pode desempenhar diferentes papéis no seio da(s) comunidade(s) que o acolhe. O teatro é afinal local de (re)união, criação, reivindicação, confronto, invenção, questionamento, catarse, transmutação para uma reinvenção do que é ou poderá ser Ser-se Humano. Foi essa experiência que tanto o Teatro de Balugas como os Roderikus proporcionaram às respetivas plateias, por intermédio de recursos e técnicas distintas fruto de abordagens diferenciadas por parte de cada companhia do fazer artístico teatral. Tal como na vida, as possibilidades de estar e viver o teatro são infinitas…

No sábado, 28, o espetáculo Os Raposos pisou as tábuas do palco do centro paroquial da Reguenga e tocou os presentes pela intensidade e força da mensagem. Segundo as palavras do diretor artístico do Teatro de Balugas, Cândido Sobreiro, o espetáculo pretende dar voz àqueles que normalmente não a têm, aos esquecidos. Àqueles que a tendo, não se conseguem fazer ouvir ou desistem antes até de tentar fazerem-se ouvir “pelos que mandam”. O Teatro de Balugas assume-se no panorama teatral como uma companhia que parte das suas raízes minhotas, da relação próxima que mantém com a comunidade que os acolhe, a freguesia de Balugães no concelho de Barcelos, e o seu âmbito geográfico, o Noroeste Peninsular, resgatando tradições, costumes e histórias verídicas, como a história por detrás de Os Raposos, para fazer teatro.

No domingo, 29, as cerca de 400 pessoas presentes na sala deliciaram-se com o espetáculo Trocas e Baldrocas, escrito e produzido pelo grupo de teatro de Roriz, os Roderikus. Tratando-se de uma peça que na sua construção parte em grande medida das vivências locais, o público pôde espreitar pelo buraco da fechadura e ter um vislumbre de fragmentos de histórias e episódios da vida da comunidade local, a de Roriz. Em tom jocoso e bem-humorado como convém ao teatro de comédia Trocas e Baldrocas além de divertir e entreter desafiou em jeito de provocação estereotipada todos os presentes a refletirem e questionarem-se acerca dos preconceitos que muitas vezes se traduzem em comportamentos e atitudes igualmente estereotipados. Ninguém escapou ileso, dado que foram diversas as ocasiões em que vários dos presentes se identificaram ou reconheceram nos desenrolares da trama.

Ainda há mais. O PALCOS continua no próximo fim de semana.

No sábado, dia 4, o Palcos ruma pela primeira vez ao centro paroquial de Sequeirô dando as boas-vindas à companhia que vem da Figueira da Foz, Pateo das Galinhas, e que apresentará pelas 21:30 a sua 15.ª produção A Cadeira. O espetáculo parte do texto A Cadeira, o primeiro conto do livro de contos Objeto Quase, do escritor português laureado com o Prémio Nobel da Literatura em 1998, José Saramago.

 

O encerramento desta 8.ª edição do Palcos cabe à companhia organizadora, a Companhia de Teatro de Santo Tirso, que no domingo, dia 5, pelas 16:30, dará início no parque de Geão à apresentação da comédia Atores e Trovadores. Quem nunca se questionou sobre o seu papel neste aqui e agora. É justamente essa inquietação e muitos outros desassossegos que volta e meia assolam os dois atores, isto quando as necessidades básicas – o ter o que comer, beber, onde dormir, o que vestir, o que fazer -, lhes dá um respiro.

 

Todos os espetáculos são de entrada gratuita até à lotação da sala.