O ativista Diogo Barros, porta-voz do movimento Humanamente, movimento pela defesa dos direitos humanos com forte presença na região do Minho, Sintra e Porto, lançou este domingo um comunicado onde critica duramente o Porto Pride, evento considerado um dos maiores da comunidade queer em Portugal. Para o ativista, a iniciativa tem vindo a afastar-se das suas raízes políticas e de resistência, transformando-se cada vez mais num espetáculo condicionado por interesses comerciais, institucionais e turísticos.
No texto, Diogo Barros começa por afirmar que o orgulho é indispensável, descrevendo-o como uma das ferramentas mais poderosas de resistência das pessoas LGBTI+, na medida em que permite ocupar o espaço público, celebrar identidades historicamente silenciadas e recusar a invisibilidade. Contudo, alerta que esse orgulho corre o risco de perder a sua força política quando é transformado em produto de mercado. Segundo o ativista, “a narrativa do orgulho começa a confundir-se com uma marca registada, uma oportunidade de marketing, uma vitrine que interessa às cidades que se querem vender como inclusivas e cosmopolitas. Mas quando o orgulho se torna apenas imagem, a sua força política esvazia-se.”
As críticas do ativista incidem também sobre a apropriação do próprio nome “Porto Pride” e sobre as acusações de pinkwashing associadas à sua organização. Para o porta-voz da Humanamente, estes fatores revelam uma tensão interna na comunidade queer, uma vez que as vozes mais vulneráveis continuam afastadas dos processos de decisão. “Pessoas trans, não-binárias, intersexo, migrantes, racializadas ou em situações precárias raramente são protagonistas nos palcos do espetáculo. Muitas vezes, a sua experiência é instrumentalizada, mas não é verdadeiramente ouvida nem incorporada nas decisões”, denuncia.
O ativista lembra ainda que o orgulho não nasceu como festa, mas como revolta, recordando os acontecimentos de Stonewall como resistência contra a violência policial, a marginalização e a exploração. Para Diogo Barros, transformar essa memória em festival patrocinado, em atração turística ou em evento mediático que privilegia o que é vendável e aceitável significa amputar a sua essência. Por isso, defende que o movimento queer deve manter-se anticapitalista, sob pena de perder a sua força transformadora. “O capitalismo veste a bandeira arco-íris quando lhe convém, mas não hesita em perpetuar as mesmas desigualdades que afetam corpos queer, pobres, racializados e precários”, afirma.
Apesar das críticas, Diogo Barros acredita que o Porto Pride pode assumir um papel transformador, caso escolha abrir-se verdadeiramente à comunidade, ser transparente e colocar-se ao lado das lutas concretas contra a violência, a discriminação e a exploração. “O Porto Pride deveria questionar, incomodar, confrontar o poder, e não torná-lo mais confortável”, defende. E conclui de forma categórica: “Orgulho sem justiça não passa de espetáculo. A visibilidade, quando não se transforma em mudança material, torna-se apenas um reflexo bonito mas frágil, que pouco protege quem continua a ser alvo da exclusão e da violência.”